terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Série: Ponte de Itaparica

Em uma série de entrevistas que o Farol da Bahia está realizando para entender todos os
impactos que a ponte Salvador-Itaparica pode ou não causar à Baía de Todos os Santos -
tanto como para órgãos que operam na baía como para as comunidades que a cercam-
fomos convidados pelo Diretor de Infraestrutura e gestão Portuária, o Vice-Almirante Carlos
Autran Amaral e o chefe de gabinete, José Cassiano Ferreira Filho, da Companhia das
Docas do Estado da Bahia (Codeba) para um bate-papo de esclarecimentos.
Perguntado sobre o momento econômico que o país vive, e principalmente a Bahia, onde
qualquer impacto em qualquer setor da economia seria sentido rapidamente, o
Vice-Almirante lembrou da grande capacidade de a Codeba e os portos que administra
(Salvador, Aratu e Ilhéus), e sobre os seus potenciais. “Veja bem, o porto de Salvador tem o
potencial de ser um grande porto para o país. Você tem Santos, que é um porto que tem 33
quilômetros, tem Paranaguá, que é um porto grande também, mas aqui na Codeba, em
Salvador, temos um terminal de contêineres (Tecon) que hoje ele tem capacidade de
crescer e concorrer com outros grandes, como o de Santos”, comenta.
“O nosso porto recebe uma carga específica, em Aratu que é uma área de potencial de
crescimento grande, são cargas diversificadas, como granéis, sólidos, líquidos e gasosos.
Temos uma variedade grande de carga, com área para ser ampliada. A profundidade de
Aratu é melhor que a de Salvador, temos uma condição natural bastante promissora,
chegando à profundidade de 20 metros, sendo que em Salvador o máximo beira aos 14
metros de profundidade. O futuro para nossos portos é promissor”, explica o Vice-Almirante.
Em relação à ponte Salvador-Ilha de Itaparica, a Codeba esteve presente em praticamente
todas as conversas até o momento. “Até mesmo na 100ª audiência pública nós estávamos
presentes, por enquanto, a ponte não é uma ‘ameaça’ para os nossos portos, mas estamos
‘de olho’, e abertos a conversas sempre com o Governador e o Vice”, comenta.
“No momento, eu diria, não temos preocupação, mas sim atenção com o aspecto geral do
impacto. Se a obra da ponte pode ou não impactar em nossas operações, pelo que vemos
no traçado dela, ela não deverá impactar em nosso porto. A preocupação é em relação à
bacia de manobra, de ‘evolução’, onde ocorre o giro dos navios”, explica o diretor de
infraestrutura.
“Esse traçado, onde a ponte tem essa curva passando pela profundidade de 5 e 8 metros
de profundidade, não impactaria em nada. Os navios que hoje operam aqui, tem ‘calado’
maior do que isso, então antes de chegar na ponte, teoricamente, eles seriam ‘encalhados’”,
detalha. “Na profundidade da curva inicial da ponte, não se trafega navio, por isso não há
essa preocupação. Mas nós temos uma atenção enorme em relação à obra da ponte. Não
estamos ‘esquecidos’ de manter nossa atenção em relação à isso, para que a ponte não
venha no futuro impactar ou inviabilizar as operações de navios maiores”, comenta.
“Já existe uma expectativa de recebermos navios de 366 metros de comprimento, os
chamados ‘Full containers’. Hoje, só o porto de Santos é homologado para receber esse
tipo de navio. Talvez tenhamos que aumentar o canal de dragagem, para que seja um pouco mais profundo, mas as condições ambientais e geográficas do porto, são muito boas
para o acesso, sem muitos obstáculos”, explica Carlos Autran.
Em relação aos outros portos e toda a Baía de Todos os Santos e o recebimento de navios,
o diretor de Infraestrutura explica que por enquanto não existem problemas em relação ao
projeto e a realidade.“Se a ponte poderá impedir a entrada para navios para Madre de Deus
ou Aratu? Com essa altura que está prevista, não impede, não irá interferir. Até a largura é
bem propícia. Isso não seria um problema para impactar a navegação de navios após a
ponte no canal de Cotegipe”, afirma.
E sobre o fato de existirem conversas do Estado com a Codeba, Carlos Autran mostra o
quanto é aberto ao diálogo. “Existe sim a conversa do Governo do Estado com a Codeba,
com a Marinha, nós estamos acompanhando e temos atenção em relação à isso. O próprio
secretário de infraestrutura da Bahia, o Marcus Cavalcanti, esteve aqui. Não identificamos
nada que gere impacto, por enquanto, em nossas operações”, analisa. “A não ser que
mudem o traçado, mudem o tamanho para viabilizar o projeto e interfira em nossa estrutura,
aí podemos ser impactados, a Marinha também, e a Tecon, a ponte mexe com muitos
órgãos, cidades, população… então possivelmente existe estudo para tudo isso, pelo
menos em relação à nós, estamos com atenção”, encerra o Vice-Almirante.
A ponte
O sistema Rodoviário Oeste - Ponte Salvador-Ilha de Itaparica é um projeto tão audacioso
como o metrô de Salvador foi para a época em que foi anunciado. O projeto bilionário, que
já vem sendo discutido desde 1960, e irá impactar diretamente cerca de 38 municípios, 3,98
milhões de habitantes e será feita em Parceria Público Privada (PPP). A ponte terá a
extensão de 12,4 km, com uma largura de 36 metros, contando com 2 pistas com 3 faixas
cada, mais o acostamento. A estimativa dos órgãos envolvidos nesse projeto - Seplan,
Seinfra, Sedur, Sefaz, Casa Civil e Desembahia - é que até o 31º ano de operação, já
tenham passado cerca de 151,6 mil/dia veículos.
Por conta do projeto da ponte, o Estaleiro que está para ser construído na região de
Maragojipe, a pouco menos de 200 quilômetros de Salvador, preciso ser adiado em 5 anos
para ter seu projeto reestruturado por conta da ponte. O estaleiro foi orçado em R$ 2,6
bilhões, e promete movimentar a economia baiana em breve.